Enfrentei um bully da minha infância 15 anos depois.

Durante o ensino fundamental minha mãe me mudou de escola e eu era bem matuta, uma menina de interior, inocente. Desde o primeiro dia nessa escola minha vida era um inferno, eu sofria bullying por existir, por ser criançona demais, por não estar no padrão estético com 11 anos as meninas populares eram magrinhas, fãs do RBD, eu era barrigudinha, tinha espinhas, brincava de Barbie e tinha problemas hormonais.

A ansiedade me causava sudorese e eu fazia uso de hormônios então meu suor era forte as vezes, mas nada que realmente incomodasse alguém pq eu tinha umas amiguinhas e eu sempre perguntava se eu estava fedendo, elas conferiam e falavam que não estava.

É até difícil pra mim lembrar do que eu sofri. Tinha um menino lá que era o bully da escola, ele era popular e fazia graça com todo mundo, mas eu tive o azar de ser o alvo dele por 3 anos seguidos e no segundo ano do médio. Ele me zoava sempre, e já chegou a me ameacar, ou dar as respostas da prova ou ele ia espalhar pra todo mundo que eu era fedida. Nesse dia ele sentou atrás de mim e ficava me cutucando com o dedo de uma forma esquisita (como se tivesse simulando um ato sexual).

Ele fazia que tava tossindo quando eu passava, ele sempre falava de mal de mim pra todo mundo e ngm ligava, eu sofri por anos, eu tive traumas que ficaram na minha alma por anos, quando eu finalmente achei que tinha me livrado dele, eke voltou a estudar na minha sala, e como eu já não tinha esse problema de suar, ele usou outra coisa: minha aparência, quando eu arranjei um namorado “bonito” ele espalhou que eu transava com ele e era puta.

Eu nunca fiz nada pra ele, nunca revidei, nunca denunciei, eu na realidade tinha mt medo dele mas guardava. Nos roles eu ignorava ele mesmo sabendo que ainda era alvo.

Já adulta, encontrei com ele algumas vezes, ele é amigo em comum de vários amigos meus e é do meio good vibes, evoluindo, esquerdomacho bissexual amor livre e tal… Ontem numa festa ele me viu e achou de bom ir até mim e me cumprimentar. Eu fingi que não reconheci pra ver se ele ia embora, mas ele insistiu e eu pensei: quer saber, vou devolver esse trauma é aqui mesmo, na pista de dança.

Sorri como quem reconhece: claro, você era o menino que fazia bullying comigo no colégio Ele murchou, os ombros caíram, o olhar vazio, e eu ali na frente dele (maior que ele), me senti uma gigante diante da pequeneza dele, que estava minúsculo de vergonha. Peguei no ombro dele, falei bem perto ( pra me certificar que a música não ia atrapalhar) e disse: é que geralmente quem faz isso esquece, mas quem sofre não.

Ele retrucou: eu mudei, eu não sou mais assim, eu te peço perdão. Eu respondi: tudo bem, já é um começo, mas no momento é isso, não quero aproximação.

Ai um amigo meu chegou e eu disse pra ele: tchau. E ele saiu, minúsculo, confuso, triste mesmo. Pouco depois ele foi embora da festa e eu fiquei lá grandona me divertindo. Parecia que eu ia voar de tão leve, tão liberta daquele sentimento ruim que me envenenou por tantos anos. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Me livrar do ódio. E apesar do tom de deboche, eu falei de coração quando disse que tava tudo bem, pois estava mesmo, e eu realmente acredito que ele mudou, mas aquele momento era necessário. Não se pode liberar perdão sem que o outro tenha consciência do que fez. Se ele não sabia, agora sabe.

Não fiz por vingança, não fiz na frente de outras pessoas, eu fiz pq era o que tinha no meu coração e fui sincera. Isso é uma conquista pra mim. Ser eu mesma e enfrentar meus medos.